Nestes tempos difíceis a eficácia logística dependerá de muitas providências
Mas principalmente das pessoas
Paulo Roberto Guedes | Consultor Associado da Sociedade Faria de Oliveira Advogados | Março de 2023
A legítima e correta preocupação com o meio-ambiente e as crises climáticas, o processo de urbanização e o crescimento das grandes metrópoles, a evolução tecnológica, a integração econômica (ainda neste mundo muito globalizado) e as alterações geoeconômicas, apenas como alguns exemplos, tem proporcionado graus maiores de complexidade em todas as atividades humanas. Em particular nas operações logísticas, que precisam movimentar, com eficácia, volumes cada vez maiores de mercadorias de e para todas as partes do mundo.
Com o surgimento da pandemia e a guerra na Ucrânia, e a consequente desorganização da produção mundial, bem como de suas respectivas cadeias de abastecimento e distribuição, tudo ficou ainda mais difícil, e o instinto de ‘sobrevivência’, de pessoas e empresas, surgiu como máxima prioridade. Se por um lado as autoridades governamentais procuraram combater a pandemia e proteger as pessoas, com vacinação e ajuda monetária dentre outras providências, as empresas, em particular, adotaram um conjunto de providências padrão, tais como rígido controle de caixa e de custos, administração de estoques, ampliação de portfólio, melhoria de atendimento e aumento da produtividade.
Especificamente no campo da logística, ficou evidente que dependendo da região, do cliente, do produto, do momento ou dos recursos disponíveis, entre outras variáveis, os impactos se diferenciavam e exigiam respostas diferentes, específicas e mais adequadas. Embora muitas semelhanças pudessem ser constatadas, não havia receita única.
Ficou evidente que os impactos com relação ao novo comportamento do consumidor, ao crescimento do comércio eletrônico e das vendas no varejo, aos novos canais de distribuição, ao avanço tecnológico e à inovação, (digitalização, robotização e automação, entre outros exemplos), à nova postura empresarial e à pressão para realizar operações ecologicamente corretas e sustentáveis, incluindo-se a utilização de energia renovável, apenas para citar alguns dos ‘novos fenômenos’, terão ‘consequências’ diferentes, em proporções diferentes e em tempos diferentes para cada um dos diversos atores econômicos.
Desenvolver plataformas de marketplace próprias, aumentar investimentos em mídia digital ou diminuir a rede de lojas físicas, apenas como exemplos, podem resolver os problemas de inúmeras empresas, mas não são respostas para todas elas. Associar-se às startups logísticas (“Logtechs”), como forma de acelerar o desenvolvimento de soluções específicas, ou operar armazéns fechados, para diversos tipos de produtos vendidos via e-commerce, de modo a facilitar e racionalizar o desenho de rotas e dos processos de entrega, podem ser ótimas soluções para operações pertinentes. Mas sem dúvida, não é a solução para toda e qualquer empresa, considerando que, como aqui já se escreveu, cadeias produtivas, relações comerciais, formas de contratação etc., agora profundamente alteradas, obrigarão os empresários e executivos da logística a desenvolverem, com base em perspectivas futuras ainda bastante desconhecidas e incertas, propostas empresariais que satisfaçam essas novas expectativas e gerem valor para os “stakeholders”.
Consequentemente, a utilização da Internet das Coisas, da Inteligência Artificial ou da Big Data, de modernas técnicas de gerenciamento de riscos, de frotas e de equipamentos ou de estoques, por exemplo e especificamente no campo da logística, tornaram-se instrumentos cada vez mais comuns, desde que, vale frisar, adaptados às características empresariais de cada setor.
Operar com sustentabilidade, incluindo-se a “descarbonização”, e assumir suas novas responsabilidades sociais, cuja sigla ESG (“Enviromment, Social and Governance”) conceitua e define um conjunto de atividades empresariais voltadas às pessoas, ao meio ambiente e à governança, são outros exemplos de providências que, sem dúvida, estarão a caracterizar as modernas empresas desta década. Realidades, portanto, que também deverão fazer parte da rotina dos profissionais de logística e ‘supply-chain’ de todo o mundo
Mas é essencial que também haja espaço na agenda desses profissionais, para se planejar o futuro e, se necessário, repensar os próprios negócios.
Para tanto, diagnósticos corretos e realistas, que identifiquem e permitam o desenho de cenários mais fidedignos, como forma de se facilitar a compreensão do ‘novo momento’, revalidando, ajustando ou alterando os próprios planos de negócios, serão necessários. É aqui que se apresentam como fundamentais, mesmo com as flexibilidades necessárias, os objetivos a serem buscados e o planejamento estratégico compatível.
Nesse mister, e diante de tantas incertezas e o altíssimo grau de interdependência atualmente existente, seja entre empresas ou países, a utilização de mecanismos que melhorem o reconhecimento e o dimensionamento de riscos também passou a ter maior importâncias nas atividades empresariais. Riscos e rupturas que podem impactar as operações e até colocar em risco o próprio negócio, mesmo quando inevitáveis mas desde que conhecidos, poderão ter seus impactos negativos minimizados. Vale lembrar que ameaças de ‘ataques cibernéticos’ tem sido cada vez mais frequentes.
Isso nos leva à concluir que realizar observações com mais frequência e maior profundidade, a ponto de permitir que se acompanhe a velocidade das mudanças e se façam projeções mais confiáveis, bem como o desenvolvimento de instrumentos de avaliação de desempenho que levem em conta esses cenários mais dinâmicos, transformaram-se em ‘obrigações’ de todos os profissionais e executivos empresariais e, em particular, daqueles que trabalham na logística. Maiores ou menores graus de exposição a riscos dependerão, sem qualquer dúvida, da eficácia dos sistemas de monitoramento e de avaliação, bem como dos planos de contingência existentes.
Para finalizar, talvez o ponto mais importante: tudo somente funcionará de forma completa e com eficácia, se os profissionais envolvidos nessas tarefas estiverem capacitados, treinados, motivados e com a devida compreensão a respeito. Não há dúvidas, o foco principal continua sendo as pessoas, não somente para que as empresas “sobrevivam”, mas sobretudo para progredirem.