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Uma logística eficaz exige realismo

Paulo Roberto Guedes | Consultor Associado da Sociedade Faria de Oliveira Advogados | Abril 2021

Diante de tantas incertezas, principalmente no momento atual e considerando o altíssimo grau de interdependência existente, seja entre empresas ou países, a maioria das empresas tem voltado suas preocupações, bem como grande parte das providências tomadas, à incorporação de mecanismos para melhor reconhecimento e dimensionamento dos riscos a que estão, todas elas, sujeitas no “dia-a-dia” empresarial. Rupturas que possam impactar as operações e até colocar em risco o próprio negócio, quando inevitáveis, precisam ter seus impactos negativos minimizados. Evidentemente, desde que conhecidas.

Infelizmente, para complicar ainda mais, as origens das rupturas são as mais diversas possíveis, indo de alterações nos contextos políticos, nacionais ou mundiais, instabilidades econômicas e sociais, até o surgimento de eventos inesperados, como é o caso do Coronavírus. Quantas ‘coisas’ podem parecer sem importância, ou mesmo improváveis de acontecerem mas que, ao se realizarem podem gerar consequências – para o bem ou para o mal - extremamente significativas?

É imperativo, portanto, que os profissionais, em qualquer área de atuação, encarem a realidade e os problemas como de fato eles são, não importando o quanto poderão estar ruins, pois não há nada que não possa piorar. Aliás, a simples negação da existência de crises e de problemas, apenas contribui para que eles sejam maiores no futuro. Se há crises, é preciso encará-las de forma vigorosa e completa. E aprender com cada uma delas, até o ponto, se o caso assim exigir, de se necessitar reprogramar tudo.

Isso nos leva à concluir que realizar observações, agora com maior frequência e profundidade, que permitam acompanhar a velocidade das mudanças, ter instrumentos de avaliação de desempenho que levem em conta cenários cada vez mais dinâmicos e movimentar-se com rapidez, para adotar medidas urgentes e que se adaptem aos novos cenários, transformaram-se em atividades profissionais imprescindíveis.

Na logística, isso não é diferente, posto que as cadeias de produção e abastecimento, muito mais globais e complexas, estão permanentemente exigindo um conjunto de ações integradas, coordenadas, com desenhos e soluções personalizadas – a clientes, produtos e regiões - e adaptadas às novas realidades que, teimosa e frequentemente, se apresentam.

Evolução tecnológica, multiplicação dos canais de distribuição e dos requisitos de entrega e distribuição, crescimento do comércio eletrônico, entre outros, são eventos que já fazem parte do cotidiano do profissional de logística, levando-o a assumir posição de maior protagonismo e de efetiva integração junto aos demais setores da empresa. Sem espaços para modismos, é fundamental que se compreenda que a área de logística não é, como se acreditava em “priscas” eras, um simples departamento estruturado para recebimento e expedição de mercadorias. As atividades logísticas tem, sem qualquer dúvida, importância estratégica, uma vez que fazem parte integrante, e não acessória, do “business” empresarial.

Diante disso, é inevitável o entendimento de que a sobrevivência empresarial, bem como os índices de crescimento e de lucratividade, dependem diretamente da eficácia e da qualidade dos serviços logísticos obtidos. Por consequência, os profissionais de logística, ao elaborarem seus planos de atuação, não podem prescindir de considerar um conjunto de premissas importantes que, indiscutivelmente, tem a ver com a estratégia da própria empresa. Arrisco-me a listar algumas dessas premissas:

• Alinhamento dos objetivos e estratégias do setor aos objetivos e estratégias empresariais, incluindo-se aí os clientes, seus desejos e necessidades;
• Cuidados permanentes com Qualidade, Segurança, Saúde e Meio Ambiente (EGS);
• Busca constante de fontes de energia renovável, de forma a substituir as fontes de energia fóssil por energia renovável (obrigatório a redução na emissão de Gases de Efeito Estufa –GEE);
• Redução de custos, sempre desejável, buscada à partir da diminuição da complexidade operacional e administrativa e do aumento da eficiência e da produtividade;
• Utilização, sempre que possível, do conceito ‘colaborativo’, no qual a relação “ganha-ganha” passa a ser postura rotineira;
• Inovação e desenvolvimento de tecnologia da informação para aumentar a eficiência, não só de suas próprias operações, mas também para facilitar a atuação dos demais setores da empresa;
• Melhoria contínua dos processos operacionais, aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho e implantação de boas práticas;
• Estabelecimento de SLAs (níveis acordados de atendimento aos clientes) e KPIs (índices de desempenho) compatíveis e alinhados aos objetivos da empresa. E sempre como mecanismos de gestão; e
• Desenvolvimento, capacitação e política de retenção de talentos e de identificação de futuros líderes.

Com comunicação clara, objetiva e frequente, além dos funcionários da empresa, e em especial aqueles da área, também é necessário envolver no planejamento logístico, os chamados “stakeholders”. E, se possível, melhor ainda, obter o apoio e a colaboração de todos.

Não há dúvida. Uma logística eficiente, praticada com disciplina e organização, é condição “sine qua non” para que se alcancem o crescimento e o desenvolvimento empresariais, e também eficaz, na medida em que proporciona o caminho mais curto para o enfrentamento

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